domingo, 1 de junho de 2008

Dia 1: Qual o melhor título para essa história? (ah, é história mesmo, e não estória, pois é verdadeira!) :)





Era sexta-feira. Seu último dia de trabalho! E então viriam as férias! Deus sabia como Ella estava precisando daquelas férias! Tinha sido um ano exaustivo! Depois de quatro anos “de molho” sabe-se lá porquê, e tendo que provar em todos aqueles dias a injustiça daquele “molho”, Ella havia sido transferida para trabalhar em outro Estado, ganhando um pouquinho mais do que estava ganhando. Nos últimos meses Ella se perguntava se havia sido uma decisão acertada. Deixara a família, que era o seu suporte mais importante, e amigos. Poucos. Mas verdadeiramente amigos. Mudara-se para uma cidade que não conhecia, longe de tudo que lhe era familiar e querido, para tentar reverter aquela situação no serviço. Tivera esperanças de começar de novo! E aquela esperança foi se diluindo naqueles últimos sete meses, de modo que agora não sabia responder aquela pergunta: "Havia valido à pena? "O começo daquele dia no serviço revelou-se desastroso! Logo ao chegar, em cima de sua mesa, havia uma correspondência de um cliente questionando a solução de um problema que havia sido discutido entre ambos dois dias atrás, na quarta-feira. Ella ficou atônita! Fitou a colega à sua frente, sem acreditar! Dois dias atrás, ensinando o serviço que fazia à colega, preparando-a para suas férias, Ella havia lhe passado aquele problema. Bastava que Bete passasse as ordens de pagamento, como Ella havia ensinado. No dia anterior (quinta-feira), Ella havia recebido outra mensagem do cliente, solicitando a prontidão no atendimento. Ella havia questionado Bete, que admitiu ainda não ter respondido o cliente. Naquele instante, ao ouvir a resposta de Bete, Ella respirou fundo, sem acreditar na falta de ação da colega. Havia estendido a mão e solicitado à colega a devolução do documento, para que ela própria providenciasse as transferências, quando então Bete lhe disse que faria as transferências “-Pode deixar comigo! Eu farei!”- ela havia dito, olhando em seus olhos. Ella decidiu dar outra oportunidade à colega, uma vez que aquele tipo de serviço faria parte das atividades da colega durante o próximo mês, durante as férias de Ella. Entregou o novo e-mail do cliente, cobrando a solução do problema, e voltou sua atenção para os outros problemas em cima de sua mesa. E agora, naquela sexta-feira, um novo e-mail do cliente estava lá, dessa vez mostrando toda a sua insatisfação quanto à solução de seu problema!Ella não sabe como começou a discussão. Lembra que perguntou à Bete se ela havia feito as transferências, e quando a colega disse que “-Não!”, Ella simplesmente perdeu a paciência! Lembra que elevou a voz ao falar com a colega, indignada que estava com sua atitude. E então, em vez da colega assumir seu erro, a mesma passou a dizer que o problema era de Ella... “- Essas transferências foram solicitadas há 10 dias atrás!”... “- Você deixa acumular seu serviço!”...Então tudo virou um caleidoscópio de imagens, sons e cores! O setor parou para que todos ouvissem aquela discussão! Ella estava indignada com a situação, com a colega querendo repassar a culpa para ela! A gerente saiu de sua cadeira, aproximando-se das duas, e quando abriu a boca, foi para dizer que ultimamente vinha querendo falar sobre aquele assunto, pois havia notado que mais e mais clientes estavam reclamando de atraso em suas solicitações...É engraçado como essas situações são tão normais! Quem já não passou por isso? De um lado, confiança, ingenuidade empresarial, falta de malícia... de outro, ah, de outro lado...Ella olhou para a gerente. De repente, o quadro estava tão claro! Lembrou-se que possuía um currículo impecável! Curso superior, pós-graduação, falava inglês, possuía várias certificações exigidas pela empresa! Naquele ano, inclusive, obtivera mais duas certificações, sendo que a segunda prova fizera junto com a sua chefe... que não passara!Naquele instante, outras situações de trabalho passaram diante de seus olhos, como um filme: lembrou-se do período de férias de sua chefe, quando Ella precisou assumir uma postura gerencial para o bem da continuidade do serviço da equipe. Essa postura levou à retirada de um membro daquela equipe, que mais atrapalhava do que ajudava! Era um rapaz que se atrapalhava com o serviço que executava de tal forma, que sempre que terminava o seu expediente, deixava várias tarefas para trás, forçando Ella a terminar o serviço deixado por ele. Aquele acúmulo de tarefas no final do expediente trouxera alguns problemas, como algumas multas por erro... aplicadas à Ella, é claro, já que era ela quem finalizava as tarefas!... eu te contei que a Administração fez circular no setor relatórios falando sobre essas multas e apontando a responsável? Claro, a Ella!!!Engraçado! O rapaz passara por outros gerentes, que fizeram a mesma avaliação de Ella. Entretanto, ele havia permanecido na equipe de Ella, quando era óbvio que ele deveria estar sendo utilizado em um setor que se beneficiaria com sua aptidão em informática!

Também se lembrou que sua gerente fizera pouco caso do serviço do funcionário novo, o qual Ella havia elogiado logo nos primeiros dias, e que durante as férias da gerente, fora notado por outros gerentes de outras equipes!Mais tarde, sua gerente teve de reconhecer essas atitudes que Ella tomara, em sua avaliação funcional. Mas ainda soava em seus ouvidos o que ela dissera: “_Você é muito inteligente, mas...”. A inteligência era algo que não se podia negar... afinal, o currículo comprovava suas certificações! Mas o restante... você sabe como é: quem vai dizer do que você é capaz ou não numa avaliação funcional? O seu superior hierárquico. E aí, avaliando algo subjetivo, como capacidade gerencial, negocial, relação em equipe... o próprio sentimento de seu superior hierárquico em relação a você!...Por fim, Ella lembrou-se de outra coisa relacionada à sua gerente: no começo daquele ano havia confessado a ela os problemas no serviço pelos quais passara nos anos anteriores. Lembrava-se perfeitamente da fisionomia de sua chefe, quando dissera: “-E você acha que alguém vai sentir pena de você contando isso?”. Não. Ella não havia contado aquilo para que sua chefe sentisse pena dela. Qual fora sua intenção ao falar sobre aquilo? Agora até Ella já tinha suas dúvidas. Era um trauma que a seguia, ferida aberta, sem nunca cicatrizar!Só quem já passou pela experiência do assédio moral pode quantificar essa experiência! Estaria Ella querendo angariar simpatia? Não! Tinha certeza que não! O motivo pelo qual havia falado sobre aquele trauma é que estava sentido um certo travamento, e pedia ajuda à sua gerente! Afinal, ainda acreditava piamente no que sua empresa dizia: um dos papéis dos gerentes era orientar seus subordinados quanto à ascensão funcional, apontando as falhas e direcionando ferramentas para corrigir aquelas falhas! Santa ignorância! Santa ingenuidade!Ella terminou a discussão: “- Não quero falar sobre isso hoje! Hoje eu não quero me aborrecer!”. E assim voltou sua atenção para o serviço em sua mesa, em contagem regressiva para o final do dia e início de suas tão necessitadas férias!Meio que não percebeu os olhares dos outros sobre ela. Meio que não deu bola para o zum-zum-zum que começou a circular no ambiente. A única coisa que queria era terminar seu serviço, e acabar aquele dia. Férias. Descanso. Visitar a família e os amigos que deixara em sua cidade! Deus, estava cansada!Mais tarde, precisou relatar uma ocorrência de serviço à sua gerente. Foi quando teve certeza que aquele era O dia: ela estava falando com um outro funcionário, e ao perceber sua presença, virou-lhe a costa, ignorando-a por completo. Ella permaneceu ainda alguns minutos ali, esperando a atenção da gerente, até ter a certeza que estava sendo ignorada. Naquele momento, pensou apenas: “-Que infantilidade!”.Voltou para sua mesa. Mas o dia ainda não havia terminado. No horário do almoço, percebeu certa hostilidade nos olhos dos outros colegas. Lembrou-se de Bete, lembrou-se da discussão daquela manhã. Bete era um doce de pessoa, de fala mansa, suave, incapaz de levantar a voz! Havia anos que trabalhava naquele setor. Também era psicóloga, e exercia a profissão fora da empresa. Ella era a funcionária nova, que levantara a voz, antipática!O tema girava em torno de animais de estimação. Ella tinha dois cachorrinhos, que adorava. E a colega disse com voz brava: “- Prefiro gato a cachorro. Cachorro leva um chute do dono e continua abanando o rabinho!”. Era alguma indireta?À tarde vieram novas indiretas. Um colega, de repente, no meio da sala, virou-se para Ella e perguntou: “- E as suas pendências, Ella, vão sair de férias com você? Têm mais de 30...!” Ella não respondeu à altura. Nunca respondia! Mas deveria ter olhado dentro dos olhos do colega e perguntado: “-Mais de trinta? Então me mostre quais são!”.Naquele final de dia havia uma comemoração no setor. Era o último dia do mês, portando o dia de se comemorar os aniversariantes daquele mês. Também seria o momento em que os administradores iriam falar sobre o desempenho, metas e direcionamento para o próximo mês! E havia ainda um motivo especial: o lançamento do jornal interno! Foi uma ótima festa, com todos “gelando” Ella! ( Suspiro!)Então, finalmente, chegou a hora de ir embora. Ella passou por alguns colegas e disse: “-Até o outro mês!”. Um dos colegas olhou para ela e perguntou, surpreso: “-O outro mês?”. Ella sorriu. “-Estou saindo de férias!”. O colega olhou para Ella, e sua fisionomia mudou. Seria pena? Então Ella ouviu ele dizer: “- Que Deus te abençoe!”. Acho que até agora Ella está tentando decifrar essa frase!
Acho também que Ella está tentando descobrir como seria essa história na ótica de sua gerente, Bete, os outros colegas, os administradores! ... Pobre Ella!!! O que a aguarda quando retornar de suas férias?

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